sexta-feira, setembro 12, 2008

o bar e a noite enguiçada

fui a uma festa pequena, íntima, umas 30 pessoas, num pequeno bar no centro da capital.
a música estava confusa, não tão definida como de costume, mas ninguém parecia importar-se.
o dj, como sempre, tocava para ele mesmo. e divertia-se imenso.
pedi uma bebida, mesmo o que me estava a apetecer: uma caipirinha, gelo picado no ponto, não muito fino nem a colar, docinho e a saber a lima, quase chegando à perfeição de um night-cap.
observei a fauna: as caras do costume, com mais anos em cima, é certo, mas com o charme dos 30 bem sublinhados por baixo da roupa fashion e da maquilhagem discreta: "gosto da maneira como estamos a envelhecer", penso, macambuzia, ao dar mais um golo fresco. esta noite não me está a alegrar.
começo por fazer um retrato de familia mental, todos em grupo para a fotografia, fantasio:
ok, dealers na primeira fila, à jogadores de futebol - fazem logo uma bela intro, são uns sete só neste grupo restrito, rio-me sózinha com os meus pensamentos bizarros - na segunda fila podem marcar lugar as ex's e familia do tipo mais conhecido deste bar - uau... - e para a fila de trás, o pessoal hard core, aquele que foi a todas, mas a todas as festas, aniversários, festas de pijama e raves obscuras, e, claro, os djs. todos... agora, todos aos mesmo tempo, toda a gente diz: CEREJAAAAA. Flash-flash.
isso é que era. continuo a viver neste sub-mundo mental, pois é bem melhor que o exterior.
uma caipirinha e algumas conversas surreais mais tarde, decido que não estou em condições de aguentar isto por muito mais tempo. subo as escadas vermelhas pela primeira vez, e vou ter com o dj. a música aqui está bem melhor. ainda dou um pézinho de dança, uma hipotese a este retorno abrupto a um passado que nunca me falou ao coração.
aqui em cima, parece que vejo tudo das nuvens: os outros dançantes lá em baixo, a falarem sobre aquelas coisas que não me interessm minimamente, tipo férias fora de época no algarve VS férias no estrangeiro em agosto, ou, como evoluiu o boom festival nos últimos anos...
acabo a minha caipirinha sem perceber se ainda tinha alguma cachaça ou se o que acabei de beber era apenas o gelo derretido com açucar. acho que estou um pouco ébria. fixe.
sinto um peso enorme nas costas e pernas, como se estivesse a fazer um esforço sobre-humano para estar de pé. desço e misturo-me.
sento-me agora num banco cromado com acento de borracha preta e ajusto o decote.
parece que, depois de entrar nos trinta e de ter duas filhas pequenas, despertei o interesse por me baralhar visualmente e tentar recriar um outro eu, mais cuidado e normalizado. deve passar em breve.
folheio uma revista. "estou a ver uma revista, num bar?". ok, time to go.
preparo-me para sair, mas sou imediatamente impedida por uma dj, que quer conversa.
acompanho, honestamente interessada, o seu discurso. junta-se a nós outro dj. a tempo certo, quase milimétricamente calculado, despeço-me e movimento-me para o próximo grupo. cravam-me discaradamente uma boleia com almoço, bebida e whatever else, num destes domingos. vou sorrir e pedir outra bebida.
volto para casa cedo. deito-me a ler mais um capitulo da vida de outrem, e adormeço cansada.
amanhã tenho de começar cedo.

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