segunda-feira, fevereiro 09, 2009

o meu ipod nano

londres, novembro de 2005
está frio, e chove ocasionalmente, mas o calor que sai do aquecimento central faz esquecer quase na perfeição o tempo que faz lá fora.
desço por umas escadas de madeira que foi encerada milhões de vezes, numa casa, agora galeria, que me dizem ter sido habitada por grandes heróis da história britânica.
finjo interesse, na realidade só penso em voltar para o meu quarto, num terceiro andar de uma pensão "oh, terribly sorry, there was a minor missunderstanding..." de última hora, cujo aquecimento não obedece ao manipulo, e portanto, clima tropical em época de aquecimento global. gorgeous.
lá acabo de tirar as fotografias das obras, uns quantos auto-retratos pelo meio, "that's quite interesting!", umas stuffed potatoes on the go com 100% coke a empurrar, sim porque isso das diet é para meninas, e lá vamos nós pela oxford street, a calcorrear passeios famosos, com gente que não é dali, à procura de um bar aberto para um último shot de whiskey velho.
não há nada aberto. ok, time to go up the stairs and sleep. zapping pelos canais de pronúncia brit, espanhola e alemã, e snooze...
dia seguinte, como é bom o amanhecer que sabe a estrangeiro. sete da manhã na galeria, tendo tomado um café - dos mais caros da história - num dos primeiros cafés a abrir noutra qualquer zona chic ainda na moda. mais cliques e filme e chapas e digitais e tais e mais e ooh, stuffed potatoes, quem é que teve a amabilidade!!!, depois disto vai mas é um duplo, e sem gelo, no soho - por favor, que isto dos shots... bom, viver aqui teria de ser diferente, por certo, mas ok.
(eu estava grávida, e não disse nada. apenas o J. sabia. numa noite em que o calor eléctrico parecia não obedecer a nada nem ninguém, ficámos a conversar até de manhã, sobre coisas que nunca tinhamos falado antes, com intimidade, honestidade e alguma frontalidade. ainda retenho a imagem do seu corpo adormecido na sombra, enquanto a luz do sol fazia-me relembrar as horas da manhã, e com elas, os horários)
depois de tagarelices com senhores cockney e artistas e coisas que tais, lá vamos nós de novo respirar um ar londrino. e ali estava ela, a grande maçã do nosso encantamento, a apple store de regent street, com ipod nanos acabadinhos de sair, fresquinhos fresquinhos... "isto é que é fruta biológica!" alguém brinca comigo. e todos entrámos para ver, sentir e sonhar com a tecnologia de ponta que ali se disponibilizava inteirinha, a troco de umas boas libras. nessa tarde saiu a sorte grande a três tugas de uma só vez, e todos se sentiram mais felizes um bocadinho por terem um ipod nano, 4gb, uau. mais inseridos na sociedade, mais fashion, mais londrinos porque não! depois da roupa e do calçado, os acessórios, aah, digno de um maestro: "desenhar assistentes from scratch será o último desejo, enquanto isso, ensaiemos..."
assim começou uma intima relação com o meu ipod nano, novinho, lindo, fresquinho, e que assim que cheguei a portugal enchi com toda a música que podia. o mesmo fizeram os outros dois, e depois era uma galhofa musical, os três ipod nano de braços dados a sorrir pelas ruas, dois brancos e um preto, pois a diversidade é a nossa alegria.
e bom, andávamos sempre juntos, o nano e eu, ora cor de rosa, ora verde, conforme a vestimenta, conforme a mala, enfim, prazer quase infinito.
até que apareceu a catarina portas na minha vida, ou melhor no meu ipod. até ao dia de hoje ninguém me consegue convencer do contrário, a culpa foi dela. o designer a telefonar "onde é que andam as fotos da menina", eu a enviar ao mesmo tempo que escrevia emails, tirava fotos e massajava a barriga (a esta altura já tinha dito a todos que estava grávida, anunciando assim o caracter de urgência para o desenrolar dos trabalhos), "olha que isto não tá bom, tem de ser bem maior", e foi aqui. transfiro as imagens para, o meu ipod nano. e, ao descarregá-las... ele morreu.
depois disto, foi o horror das garantias britânicas, e por três dias (3!!!), sim três dias, já não estava dentro da garantia, oh my mac. assim, pulou de mão em mão, de mac freak a mac nerd, e nada. "benvinda à sociedade de consumo!", dizia-me um dr. mac, "temos aqui muitos para vender, faz um porta-chaves desse, fica giro!", sem comentários, enfiei o objecto no bolso e voltei ao trabalho. nunca mais tive uma coisa daquelas.
costa da caparica, fevereiro de 2009
o tempo passou e, esta semana, depois de já ter sido brinquedo das minhas duas filhas, de andar de caixa em caixa, de apanhar pó, o meu ipod nano voltou a viver! depois de ter sido presenteada com um shuffle rosa fantástico no natal passado, a ironia do destino voltou a bater à minha porta. segundo as crónicas do mensageiro, a boa nova aconteceu depois de um encontro quente com um secador de cabelo. um secador de cabelo. dois anos à espera que um secador de cabelo lhe salvasse a vida. e tantos como ele na esperança de serem reavivados, outros tantos sem saber sequer que há esperança. entretanto, por um motivo ou por outro, as vendas não têm caido...
agora, tenho dois ipods, maravilha das maravilhas, posso dar um ao meu companheiro, e assim podemos os dois ouvir a nossa música, ao nosso ritmo.
bom, ao menos serviu para o maior post dos últimos tempos.

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